Frentistas de legging e cropped: especialista alerta para riscos de trabalhar em posto de combustíveis com roupas inadequadas
Especialista alerta para riscos em postos de combustíveis sem uniforme adequado O uso de blusas cropped e calças legging em postos de combustíveis entrou em ...
Especialista alerta para riscos em postos de combustíveis sem uniforme adequado O uso de blusas cropped e calças legging em postos de combustíveis entrou em debate após a Justiça do Trabalho proibir um estabelecimento no Recife de obrigar mulheres frentistas a usarem essas peças como uniforme. Além do "constrangimento e potencial assédio" apontado na decisão judicial, a vestimenta também oferece risco à segurança das profissionais, segundo especialistas. Em entrevista ao g1, a engenheira de segurança do trabalho Gercica Macêdo, professora do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), explicou que roupas em materiais inadequados aumenta a exposição dos trabalhadores a riscos químicos, mecânicos e até psicossociais (veja vídeo acima). ✅ Receba as notícias do g1 PE no WhatsApp Segundo ela, a prática descumpre ao menos quatro Normas Regulamentadoras (NRs) do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE), são elas: NR-1: Disposições gerais e gerenciamento de riscos ocupacionais; NR-6: Equipamento de Proteção Individual (EPI); NR-17: Ergonomia; NR-20: Segurança e saúde no trabalho com inflamáveis e combustíveis. As empresas celetistas são obrigadas a cumprir essas normas, sob pena de multa aplicada por auditores fiscais do trabalho. “Se não cumprirem, são passíveis de receber multas especificamente pelos auditores fiscais do trabalho”, afirmou. LEIA TAMBÉM: Posto dava legging 'levanta bumbum' e pedia danças de TikTok, segundo ex-funcionária O que dizem ex-funcionárias, Justiça, sindicato, Ministério Público e empresa 'Belas de corpo e rosto': internautas comentam sobre uniformes em postos de combustíveis Outro posto é denunciado e vídeo mostra funcionárias com calças justas A NR-20, que trata sobre as normas de segurança em ambientes com produtos inflamáveis, aponta também quais são as principais ameaças relacionadas à atividade. Segundo a professora, ao trabalharem de cropped e legging, as funcionárias são ainda mais expostas a riscos como: Químicos: vapores de combustíveis com benzeno, substância cancerígena; Mecânicos: explosões, queimaduras e acidentes com bombas; Ergonômicos e psicossociais: assédio moral e sexual, pressão por vestuário inadequado. Ainda segundo a especialista, roupas com tecido fino e colado ao corpo aumentam o risco de derramamento de combustíveis na pele, que pode ocorrer durante o abastecimento. “Esse tecido fino e colado ao corpo aumenta o risco de contato com combustíveis e facilita a combustão em caso de fagulha. [...] Quando a gente usa uma legging e cropped, não está realmente protegendo o corpo do trabalhador. Partes como barriga e braços ficam expostas”, afirmou a engenheira. Além dos riscos físicos, a professora destaca os riscos ergonômicos e psicossociais previstos na NR-17. “Entra na questão do assédio moral e do assédio sexual, quando há essa imposição de vestuário inadequado”, explicou. A NR-6 detalha os equipamentos de proteção individual (EPIs) por tipo de risco, mas o uniforme não é considerado EPI. Para reduzir os riscos, calças resistentes ao contato com combustíveis, camisas de manga longa e calçados fechados e antiderrapantes são as opções mais seguras, segundo a professora. “O uniforme de trabalho não é um EPI, mas é uma roupa de proteção”, explicou. Mesmo sem certificado obrigatório, roupas adequadas reduzem a exposição. “Quando usamos manga comprida, protegemos mais do que com manga curta”, comentou Gercica Macêdo. Imagens anexadas ao processo mostram mulheres trabalhando de legging e cropped Sinpospetro-PE/Divulgação Posto denunciado por frentistas O estabelecimento alvo da denúncia é o Posto Power, que também é registrado como FFP Comércio de Combustíveis, em Afogados, na Zona Oeste da cidade. A ação na Justiça, que foi proposta pelo Sindicato dos Empregados em Postos de Combustíveis de Pernambuco, chegou a uma decisão no dia 7 de novembro. Uma liminar, assinada pela juíza Ana Isabel Koury, da 10ª Vara do Trabalho do Recife, determinou que o posto de combustíveis pare imediatamente de exigir fardamento inadequado para as frentistas mulheres. Caso a proibição não seja respeitada, o posto fica sujeito à multa diária de R$ 500 por funcionária. A procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) Melícia Carvalho Mesel comentou o caso e considerou que a exigência da empresa fere o princípio norteador das relações trabalhistas, que é a dignidade da pessoa humana. Outro estabelecimento, o Posto 07, no bairro da Iputinga, na mesma área da cidade, também foi alvo de denúncias semelhantes, segundo o sindicato da categoria. O que diz a empresa Na quinta-feira (13), por meio de advogado, a FFP Comércio de Combustíveis LDTA divulgou uma nota em que disse que as fotos apresentadas pelo sindicato "não dizem respeito a funcionárias da empresa, tratando-se de imagens de pessoas completamente estranhas ao quadro de empregados do posto". Já na sexta-feira (14), por meio de nota, o Posto Power disse que "o episódio citado ocorreu sob a gestão anterior, antes da recente reestruturação administrativa" e que a nova gestão, assim que tomou conhecimento do caso, substituiu o uso de leggings por calças jeans, "medida já implementada e integralmente observada". "Desde a transição [de gestão], todas as políticas internas foram revisadas e aperfeiçoadas, com especial atenção aos princípios da dignidade da pessoa humana, segurança, respeito e valorização de todos os membros da equipe", informa a nota. O documento também destaca que, por parte da atual administração, não houve "qualquer determinação, orientação ou incentivo que pudesse ser interpretado como tentativa de sexualização, exposição indevida ou imposição de vestimenta inadequada às colaboradoras". Já a distribuidora Petrobahia, bandeira do Posto Power, enviou uma nota de esclarecimento informando que: a imagem usada na denúncia "trata-se de um registro antigo e não reflete as práticas atuais da empresa nem de seus parceiros"; desde outubro o Posto Power está sob gestão de novos administradores; "cumpre rigorosamente todas as normas e exigências de segurança e saúde no trabalho, mantendo um padrão de fardamento adequado e incentivando seu uso em todas as unidades da rede, inclusive naquelas que não operam sob a bandeira Petrobahia". VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias